Terra que promete

São Paulo...
ah, como te aturo!
como te esbarro, São Paulo
durante as minhas vagas andanças
quanto do teu solo duro
são dores de tuas crianças!

finanças, cartéis, negócios no escuro
tudo é pronto para suplantar ganância
tudo é ágil conforme o teu horário
mas nada passa: fica o ciclo
o encaixe das peças de tua máquina
e a gasolina é o sangue do teu próprio operário

paulista... que gente mais engraçada!
cospe no prato que come
maltrata o alasão que a carrega
copia o pior do ocidente
tem medo do que é diferente
e inventa que a gente é diferenciada...

pois venham, venham todos pra São Paulo!
mas tragam paciência, fé e algum santo pra curar sandice
que o brasileiro é povo hospedeiro
mas aqui se recebe é de mão fechada
com punhos, granadas, ódios e tiros
tudo depende, é claro, do remetente
pois venham haitianos, venham nordestinos
venham os suburbanos, os africanos, os latinos
imploro pra que cuidemos desta gente doente!
esqueçam de terra prometida
São Paulo é a terra que promete e não dá nada
o solo roxo acabou
o que ficou foi uma casca gelada

Drummond, você me perdoe
“não cantes tua cidade”, eu sei
mas é urgente
São Paulo precisa ser denunciada
perdoa, Mário
é o progresso
que a tuas águas todas soverteu
perdoa vô!
que o rio que o senhor sempre sonhô, fudeu!
São Paulo é o inferno!
são milhões de labaredas às tardes
são milhõe$ em cada maldade
que ninguém vê, ninguém viu
(é que o síndico desse gigante condomínio
aprendeu com o síndico do Brasil)

essa cidade é treta...
tem uma cidade branca
dentro da cidade preta!
os rico é cego, surdo e burro
e os pobre só andando de muleta
terra da hipocrisia inata!
da luta incessante pra manter o crime atuante
terra que troca morte por prata
e difere usuário de traficante
pelo tipo de nó da gravata

São Paulo, como te detesto!
o que fazes pelos teus cachorros?
os únicos que cuidam de seus mendigos
lema prepotente, só vai te levar pra lama...
não conduzo nem sou conduzido –
que todos fossemos irmãos: convivo!