SESSÃO MICROCONTOS

       O microconto é um gênero literário típico da era em que vivemos, na qual a concisão e o espaçamento minimalista são reforçados pelas mais diversas linguagens cotidianas. Uma boa e atual definição para o microconto seria "contos que caberiam num tweet ou numa mensagem de texto". E por que é pequeno vale menos? De forma alguma. Não existe valer mais ou menos nos gêneros literários. São valores distintos, são brisas distintas.
       Ter "conto" no nome é significativo. Esse gênero preza principalmente pela narratividade, ou seja, ainda se conta uma história. Porém, ela necessariamente precisa ser completada na cabeça do leitor. Muito completada, por sinal. Pois que a ideia do microconto é sugerir, brincar com o que não está dito, potencializar os silêncios do texto. Ele tem o ritmo de uma narrativa, mas que é toda sugerida, e não descrita, tampouco 100% definida imageticamente, como busca ser um hai-kai, os aforismos ou outros gêneros de pouca palavra.
       Embora a concisão esteja presente na literatura só desde sempre, e a reflexão sobre os gêneros do miniconto e do microconto já datem de muitas décadas, Marcelino Freire foi um dos escritores de maior relevância para a exposição do gênero, no Brasil, quando convidou, em 2004, cem escritores a escreverem contos com no máximo 50 caracteres (títulos não incluso). O resultado foi a obra "Os Cem Menores Contos Brasileiros" (confira capa ao lado), que muito recomendo para quem gostar da brincadeira.
       Pois eu sou fascinado por esse tipo de escrita e às vezes também me aventuro na brincadeira, então vou deixar aqui alguns desses microcontos que vez ou outra pintam na caderneta.




#01 PRISÃO PERPÉTUA

Rotinou-se. Morreu de silêncio.

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 #02 CASTIGO

 Ouviu um não. Obedeceu. Desmoronou.

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#03 DISCUSSÃO DE POLÍTICA

– A cena do Brasil?
Se-na-do-to-do-fo-di-do!

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#04 PAU-BRAZIL (microconto do nacionalista de copa do mundo)

– Brasil é o meu pau!

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#05 VIDA LONGA

Ao acordar, pensou:
– Mas de novo...

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#6 PASSEATA

Todos compareceram, menos a paz, de cama com bode do gás de pimenta.

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#07 SONO DESAJUSTADO

A andança era de dentro dos sonhos. Depois de acordar, dormia nos fatos sem fronha.

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